Vamos começar do começo: Animais Noturnos é um belo de um truque.
O hype de seu diretor Tom Ford, o fodão da moda que nos brindou com um bom primeiro filme (Direito de Amar) errou feio, errou feião, nessa segunda incursão pelas artes cinematográficas.
Animais Noturnos é vendido com um filme onde uma mulher com problemas em seu casamento (a quase boa Amy Adams e nesse caso quase chata que dá sono) recebe um dia pelo correio um manuscrito de seu ex marido (o sempre lindo Jake Gyllenhaal mas nesse caso o irritadinho chatinho bundão) e ao ler o livro (que se chama, adivinhe, tente adivinhar por favor… Animais Noturnos que também é seu apelido quando casada) se envolve de tal maneira na história que sua vida real é confundida com a ficção.
Primeiro: não tem nada disso. Nada no manuscrito tem a ver com a vida real da galerista ricaça que pede pro seu mordomo abrir o envelope pra ela porque ela cortou seu dedo com o papel.
Segundo: o ex marido, que foi mal tratado por ela, trocado por um cara milionário e de quem escondeu um aborto, não dá a menor pra ela. Acho que ele s´ø manda o tal manuscrito pra provar pra fofa que ele conseguiu finalmente escrever um livro, já que era isso que ela (e sua mãe rica escrota) cobrava dele. Aliás, ele diz mais de uma vez no filme que ela o lembra muito sua sogra e ela fica brava com a comparação, só pra se mostrar depois uma cópia fiel da megera.
O que eu espero de um filme do estilista Tom Ford é algo lindo, com uma puta direção de arte, figurinos suntuosos, pessoas lindas e glamurosas. Nesse Animais Noturnos temos isso quando vemos a casa da Amy e de seu novo marido, o também lindo Armie Hammer e a casa de seus amigos lindos e ricos e luxuosos numa cena de festa que não diz pra que veio ou melhor, talvez sirva pra mostrar o vestido que usa a amiga de Amy ou pra ela dizer que vale a pena ser casada com um gay, frivolidades de um filme frívolo). Cadê o diretor bom pra criar clima, pra mostrar o que não se deve ser mostrado escancaradamente. Tom Ford é um diretor de plano e contraplano porque deve achar que todo o resto é suficiente pra seu showzinho e vemos que ele está longe disso.
O filme então tem 2 planos: o real, onde Amy fica sozinha em casa lendo o manuscrito enquanto seu marido está “em negócios” em outra cidade e ela sofre com tudo e também com o manuscrito porque a história é “oh que drama” e o plano da ficção onde acompanhamos a história do livro onde um casal e sua filha numa viagem de carro a noite em uma estrada, são parados por 3 caras mal encarados (sendo que o deles é outro lindo, o Aaron Taylor-Johson) e o drama descamba ladeira abaixo e garanto pra vocês, nada do que não esperaríamos que acontecesse num clichê sem fim.
O que o diretor e roteirista Tom Ford não consegue de maneira alguma é criar essa ligação do real com o ficcional, do quanto o drama da ficção faz a personagem se interessar tanto por ele e faz com que ela sofra por ele também. Aliás, longe, muito longe disso acontecer porque sutilezas não existem, detalhes que poderiam fazer isso acontecer não existem e eu não entendo como um esse filme pode se vender como tal.
E se o filme todo, a história toda for uma vingança do que ela fez com ele e 19 anos ele escrevendo essa história pra jogar na cara dela, me desculpe mas a personagem do Gyllenhaal é um bunda mole mesmo.
Fujam.