Nada melhor do que começar o ano com filme bom.
Projeto Flórida é o novo filme do preferido deste blog, Sean Baker, o cara que fez o grande hino trans de 2015, Tangerina.
Desta vez Baker aponta suas armas para os projetos da Flórida.
E não, diferente do título estúpido brasileiro, Florida Project(s) são lugares onde os muito pobres moram na Florida, o mundo do Mickey, e não um projeto na Flórida.
A ideia por si só já é linda, um hotel/motel tosco tosco, chamadoThe Magic Castle, todo pintado de um lilás bem fofinho, só que habitado por ratos de verdade vivendo entre famílias que pagam um quarto por dia, ou por semana ou por mês, dependendo de como eles conseguem o dinheiro para sobreviver.
O filme segue os dias de Moonie, uma menina de 6 anos de idade em época de férias, que ela tenta se divertir e passar o tempo como pode em meio a um mundo de nada ter o que fazer em companhia de adultos não muito exemplares, como sua mãe doidona e as mães (e poucos pais) de seus amiguinhos porque, afinal, mães solteiras são a maioria por la.
Moonie e seus amigos correm, andam pra caralho pra conseguir um sorvete de graça, tentam roubar coisas em lojas sob olhares afiados dos donos mas tudo isso como as brincadeiras que ela e seus amigos conhecem e inventam, tudo num clima de aventura infantil em meio a um mundo de miséria bem ao lado da DisneyWorld, o maior mundo de diversão infantil possível.
Tão perto e tão longe.
Moonie fica literalmente com o lixo da Disney, nem os outlets e as lojas estranhas ficam perto de onde ela mora.
Ela e sua mãe Halley observam muito de longe, não sentem o perfume do paraíso, mas vendem perfumes falsificados em portais de hotéis um pouco melhores que o que elas vivem como um dos truques para conseguir dinheiro e comprar um saco de salgadinhos e pagar a semana de sua casa/quarto.
Halley faz o que pode e o que não pode para prover para sua filha. Engana, rouba, faz programa, furta, inventa, mente e não se sente culpada porque essa é a vida que ele tem e assim ela coloca um teto sobre suas cabeças e comida em sua cama, já que no quarto que moram não tem mesa.
Sean Baker constrói uma situação de conto de fadas no pior cenário possível. A vida de Moonie com os amigos e as brincadeiras poderia estar em um livro infantil se não fossem as mentiras e os palavrões e as enganações.
O filme é tão bem construído e tão amarrado que me deixou querendo mais.
Ele vai num crescendo vertiginoso no início que me deixou nervoso achando que algo fosse acontecer. Mas daí o filme entra em uma quase mesmice do dia a dia sem graça dessas pessoas que não têm o que fazer só que nunca é bem assim.
E Sean Baker mais uma vez mostra que os degredados, os isolados da sociedade como a conhecemos, os párias nos contam histórias melhores do que as que nós estamos acostumados a ouvir.
Só precisamos ampliar os nossos sentidos, olhar além, ouvir além e o nosso mundo vai se ampliar e nos mostrar cores novas como vemos em Projeto Flórida.
E só pra encerrar, fiquemos de olho nas atrizes que fazem mãe e filha.
A menina Brooklynn Prince que faz Moonie é um absurdo de boa, rouba o filme.
E Bria Vinai, que faz sua mãe Halley é outra grande revelação do filme, principalmente em cenas com o sempre bom e cada vez melhor Willem Dafoe.
NOTA: 🎬🎬🎬🎬🎬
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