Pode um ator ser gigante o suficiente (desculpe a piada não intencional) para salvar um filme mal escrito, pessimamente dirigido mas cheio de boas intenções?
Não no caso de A Baleia, o novo troço cinematográfico do que já foi um dia ótimo diretor Darren Aronofsky, que dirigiu Pi, Cisne Negro e Réquiem Para Um Sonho, 3 que amo muito.
A Baleia não é Charlie, o personagem com obesidade mórbida vivido por um brilhante Brendan Fraser que saiu do ostracismo hollywoodiano para vencer prêmios e mais prêmios e ser indicado ao Oscar por esse personagem que procura a morte, que procura sua Moby Dick, que por ela dá a própria vida, a baleia do título do filme, já que pelo menos nisso Aronofsky não foi grosseiro.
Charlie vive sozinho uma vida de vergonha, tanto que ao dar aulas online, diz aos alunos que a câmera de seu computador está quebrada pela vergonha em se mostrar.
Ele só se relaciona na vida real com o entregador de 2 pizzas, seu jantar diário, com quem fala através de uma porta fechada, e com sua amiga Liz, vivida por ela sim a gigante do filme Hong Chau, que rouba para si o protagonismo de A Baleia, meio que sem querer.
Charlie quer morrer, não faz nada para se ajudar, muito pelo contrário e a grande coisa desse personagem foi não tê-lo tornado um cara escroto, mal humorado.
O Charlie de Fraser é fofo (ops de novo), gente boa, bem humorado, amistoso e tem inclusive uma cara de cachorrinho molhado na chuva querendo entrar em casa arrependido.
Mas aí termina a sutileza de A Baleia.
Todo o resto do filme é exagerado, barulhento, violento, beirando o desespero, de personagens a planos de câmera.
E olha que o filme inteiro é um huis clos, se passa inteiramente na sala do apartamento de Charlie, onde um caos contido reina, apesar de todos os pesares.
Mas a cada personagem que entra em cena, como se fosse uma peça antiga, onde portas se abrem, um entra e outro sai, a cada um desses, Aronofsky transforma a sobre vida de Charlie em um desastre, do jovem crente que quer enfiar a Bíblia goela abaixo do gordo, como se fosse fácil já que esse é seu modus operandi, à filha adolescente revoltada e insuportável (Sadie Sink) que do nada chega na casa do pai que a abandonou por um amor homossexual, e sim, isso fica claro o tempo todo como se fosse um pecado tão gigante quanto o da gula.
A Baleia era uma peça de teatro que foi mal e porcamente adaptada para o cinema por seu próprio autor que, em minha modestíssima opinião, não se esforçou tanto nessa passagem de mídias.
Do filme eu salvo claro que a atuação de Brendan Fraser, dando aula do que fazer debaixo de quilos de maquiagem e dentro de quilos de roupa de enchimento, o que levantou muitas críticas ao filme.
De A Baleia eu salvo com louvor Hong Chau, a amiga que parece que cuida de Charlie por pena mas que na verdade é a grande responsável por uma reviravolta que não existe mas precisaria existir no filme.
Culpa do Aronofsky, claro e do autor e roteirista Samuel D. Hunter que ficaram mais preocupados com metáforas rasas e pseudo lições de moral do que dar um mínimo de profundidade a algumas possíveis histórias de amor escondidas no gigante Charlie do maior ainda Brendan Fraser.
NOTA: 🎬🎬🎬
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