O começo de Saint Omer me deixou muito incomodado.

Rama, a escritora e professora que é o foco do filme, está o tempo todo inquieta, tensa.

Seja com seu marido quando acorda de um pesadelo com sua mãe, seja com sua família, quando vai almoçar na casa de quem, de sua mãe, seja quando o marido quer contar uma novidade e ela se esquiva.

Rama vai viajar, faz a mala, se despede do marido e em outra cidade começa a acompanhar um julgamento.

Laurence Coly, uma jovem, está sendo julgada por ter matado sua filha Lily de 15 meses.

Saint Omer é um filme contemplativo.

É um filme que nos conduz a uma experiência quase religiosa, onde assistir Rama ir passando seus dias vendo e ouvindo Coly, vemos o quanto uma nova experiência extrema de uma mãe, comparada a suas lembranças com sua própria mãe, vai mudando Rama, que também será mãe muito em breve.

Saint Omer me lembrou muito do cinema da argentina Lucrecia Martel.

Saint Omer é também um filme delicado, muito sutil, onde a histórias é radical, profunda, quase violenta onde tudo acontece dentro de suas personagens, onde nós, felizardos espectadores, assistimos embasbacados as almas saírem e entrarem nos corpos das personagens.

Kayije Kagame, a maravilhosa atriz que vive Rama e Guslagie Malanda que quebra tudo com sua Ms. Coly, são forças da natureza que nos entregam as maiores sensações pelas mãos de Alice Diop, em sua estreia na direção.

O filme é tão incrível, tão surpreendente em sua pseudo simplicidade que foi o representante da França na corrida do Oscar Internacional, saiu de sua estreia no Festival de Veneza com 2 prêmios importantes e acabou de vencer o Oscar francês, o César de filme de estreia.

Saint Omer é um filme absolutamente feminino, como Entre Mulheres, onde a história faz todo sentido por isso mesmo e onde presenciamos que a força feminina é absolutamente poderosa, a ponto de ser mostrada através de olhares, de uma piscada de olhos ou de um silêncio constrangedor, o que nos deixa em delírios cinematográficos.

NOTA: 🎬🎬🎬🎬🎬