Eu terminei de assistir Living e só pensei em uma coisa: que saudades que eu tava do James Ivory!
Não por nada, Living é um drama inglês maravilhoso, escrito por Kazuo Ishiguro, baseado em um filme do Kurosawa, Viver – Ikiru, que por sua vez é baseado em um conto do Tolstói.
Um dos meus americanos mais ingleses preferidos, o diretor James Ivory, que bombou muito nas décadas de 1980/90, som seus filmes sóbrios, muito bem fotografados e melhor ainda escritos, tem um filme baseado em um livro de Ishiguro, Os Vestígios do Dia.
E pra quem não sabe, James Ivory foi indicado ao Oscar porque escreveu o roteiro do nosso preferido Me Chame Pelo Seu Nome.
Isso tudo pra dizer que Living é o filme inglês que apesar de ter 2 indicações ao Oscar, para melhor ator e melhor roteiro adaptado, se bobear você não assistiria essa pérola.
Em Living, o maravilhoso Bill Nighy é um servidor público lá nos anos 1950 cuja vida já se foi de sua existência há tempos.
Como todo servidor público, diga-se de passagem.
Se a gente pensa em um desses trabalhadores de repartições públicos, que tem a vida garantida, não poderíamos ter um exemplo melhor que o senhor Rodney Williams.
Acontece que logo no início do filme ele vai a uma consulta médica e descobre que ele só tem mais 6 meses de vida. No máximo 8 ou 9.
Como nunca é tarde, seu Williams resolve fazer valer o tempo que lhe resta e não só melhora a repartição pública que está sob seu comando como se aproxima de uma moça com quem ele trabalhava, e nela encontra um último sopro de vida depois de descobrir que ela às escondidas o chama de zumbi, exatamente porque ele se comportava como um morto vivo.
Vindo diretamente do maravilhoso e preferido deste blog Moffie, o diretor Oliver Hermanus mostra aqui em Living que sua carreira vai ser uma que devemos acompanhar de muito perto.
A delicadeza com que Hermanus trata suas personagens em uma historinha de fim de vida me faz lembrar de filmes orientais lá dos anos 1950 mesmo e não só do próprio Kurosawa.
Living é uma ode ao conceito do “nunca é tarde”, segundo Tolstói, segundo Kurosawa e segundo Ishiguro, vencedor do Nobel e roteirista de grandes filmes.
Living é O filme que em pleno 2023 nos joga na cara que um ator como Bill Nighy não deveria passar despercebido e que mesmo que não vença o Oscar, tem que ser mais reverenciado que qualquer Fraser e que qualquer Mescal que tem que comer muito arroz e feijão e tomar muito “nescau” (entendeu?) pra chegar nesse nível de delicadeza e potência.
NOTA: 🎬🎬🎬🎬1/2