087/2023 R.M.N.

Cristian Mungiu é foda.

O diretor romeno já ganhou Cannes com o maravilhoso 4 Meses, 3 Semanas, 2 Dias, já quebrou tudo de novo com o maravilhoso Graduação e agora nos dá um pequeno e quase nada sutil tapa na cara com R.M.N.

A historinha do filme é a do Matthias, que volta pra volta onde nasceu, na Transilvânia, depois de trabalhar na Alemanha e sair de lá sem que ninguém soubesse e chegar de surpresa “em casa”.

As aspas são porque ele vai morar com a mãe de seu filho, dorme na sala, tenta reatar o contato com a criança, com o seu pai idoso e principalmente com sua ex, quem ele ainda ama, Csilla.

Na vila no meio das terras do Drácula, Csilla e sua mãe tem uma panificadora e precisam de empregados.

Mesmo com a crise geral, elas não conseguem ninguém e acabam contratando 3 estrangeiros, o que causa revolta.

O povo do lugar não quer de maneira alguma que os imigrantes fiquem em sua cidadezinha, porque eles vindo, outros virão e mais as famílias e mais outras virão e logo aquele lugar pacífico vai virar uma Paris imunda, cheia de gente de longe.

Pior ainda!

Os locais pararam de comprar os pães de Csilla porque seus novos funcionários não são higiênicos, não tomam banho, tem hábitos diferentes e SÓ isso seria motivo suficiente para o boicote.

O povo vai reclamar com o padre, que fala com o Prefeito e juntos marcam uma reunião com a população para discutirem o assunto e chegarem a conclusões.

Essa reunião é maravilhosa porque finalmente vemos e entendemos que a vila do Matthias, no meio da Transilvânia, é formada não só por romenos mas também por húngaros e moldavos, o que por si só já transforma a reunião em uma quase torre de babel, com cada um falando uma língua enquanto que os romenos pedem pra que todos falem romeno.

Aí enxergamos a hipocrisia dos povos que vieram de vários lugares não quererem que outras pessoas de outros lugares entrem em suas comunidades multi étnicas.

O diretor Mungiu com toda a sua sutileza fílmica, com a câmera que não existe, com sua forma de direção invisível, mais uma vez me colocou como espectador no meio da história toda como se eu não estivesse sendo conduzido por alguém.

Os acontecimentos que vão mostrando toda a hipocrisia do povo mas também toda a união que eles têm a partir de eventos inesperados, é prova de que saber contar uma história é para poucos.

E o final do filme?

E. O. Final do filme?

Só pela cena final Mungiu merece que a gente beije o chão que ele pise ou melhor, merece que a gente coloque nossas mãos no chão para que ele ande pisando nesse caminho espalmado para que nem sujar a sola de seu sapato ele suje.

Gênio!

P.S.: o RMN do título é a sigla em romeno para ressonância magnética, que é bem o quanto o filme vai fundo em seu “recorte”.

NOTA: 🎬🎬🎬🎬🎬

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