Lá vem um puta de um filme com um título tosco aqui no Brasil.

Parece que é um filme de policial, de criminoso, de perseguições, de tiro porrada e bomba, mas não é nada disso.

Três Anúncios Para Um Crime é um daqueles filmes que eu fui ver esperando muito, por causa de todo o falatório favorável e no final o filme é melhor ainda do que eu esperava.

A começar pela atuação de arrancar suspiros da sempre ótima Frances McDormand que vai estar lá na plateia do Oscar esperando seu nome ser chamado como uma das finalistas e se bobear, como a vencedora da noite.

O filme se passa em Ebbing, Missouri, uma cidadezinha minúscula e tosca e preconceituosa como só os EUA são capazes de criar.

Lá se você não é branco e hétero, você é um lixo.

Frances é uma mãe de uma menina que foi morta em um crime não solucionado depois de meses, apesar de toda a gravidade do crime, apesar de sua filha ter sido estuprada enquanto estava morrendo de tanto apanhar.

Cansada de esperar sentada em casa, ela aluga por um ano 3 outdoors que ficam na estrada bem na entrada da cidade e lá, em letras literalmente garrafais, pergunta o que a polícia está fazendo para resolver o caso, citando inclusive o nome do xerife da cidade.

Daí pra frente a merda que ela joga no ventilador toma proporções que nem a própria esperava.

O trio de policiais principais da cidade fica perdidinho da silva e digo uma coisa: que trio. O xerife é o renascido das trevas ultimamente Woody Harrelson com seus dois asseclas toscos e mal educados e grossos e bem violentos Zeljiko Ivanek e um dos meus preferidos da vida, Sam Rockwell.

Falemos do Sam.

Ele começa como o mais violento policial que você odeia, com atitudes tão inesperadas e chocantes que me fazia respirar fundo. Só que aos poucos seu personagem vai criando uma força e um poder tão impressionante que só por ele eu já aplaudiria o roteirista do filme.

A luta, ou melhor, a guerra que a personagem da Frances começa com a polícia e os poderes da pequena Ebbing vai tomando ares tão inesperados para ela e para os seus ao mesmo tempo que os mesmos poderosos que os intimidam vão sofrendo consequências que nem eles esperavam que fossem possíveis acontecer como acontecem.

O filme não tem perseguições de carro, nem policiais, nem bandidos, nem filhosdaputa assassinos nem nada disso, o filme tem gente como a gente, gente que é boa e ruim ao mesmo tempo, gente com profundidade, com sentimentos (nem sempre os melhores, diga-se de passagem), mas gente que você encontraria na sua vida com certeza.

Esse é um dos filmes do que eu chamo de a nova cara dos roteiros de cinema de hoje em dia que acabam com os estereótipos e com os radicalismos psicológicos.

A mãe que sofre aqui não é só uma tadinha que chora, é a que vai lá e faz e exige e luta e briga e dá porrada e faz muita cagada.

O xerife que não resolveu o caso não é só o white trash preconceituoso que bate em negros e relega estupros, mas também o cara que tem família, que ama a esposa, que ama as filhas e que fa o bem e não faz questão de que saibam que ele faz.

O outro policial que é quase um carrasco, que mete medo em todo mundo, quando é enfrentado vira quase uma menininha e depois mostra que até um monstro como ele tem coração e que quer fazer a coisa certa, mas que é ignorante o suficiente pra fazer não da forma certa.

Mais do que a história poderosa, Três Anúncios para um Crime é um filme que acaba sendo um estudo de personagens, um estudo da alma humana em situações extremas e radicais, graças ao roteiro e a uma direção mais que precisa, ambas responsabilidades do britânico Martin McDonagh, diretor do lindo In Bruges, Na Mira do Chefe, lembram?