Ah como é lindo Noite de Reis, o filme da Costa do Marfim que tentou uma indicação ao Oscar de filme internacional de 2021.

O filme se passa dentro da prisão de MACA, um Carandirú deles, que fica no meio da floresta e é a única prisão do mundo comandada por um prisioneiro, coisa doida.

Prisioneiro este, Dangog, o Barba Negra, está muito mal de saúde e se não conseguir mostrar seu poder de alguma forma, tem que tirar a própria vida antes da lua vermelha.

Com a chegada de um novato, Dangog o escolhe para ser o novo Roman, o contador de histórias, um dos cargos mais altos da hierarquia de MACA.

Se Roman for aceito pela comunidade, o Barba Negra consegue ganhar um tempo extra e assim se salvar do seu destino fatal.

Até a próxima lua vermelha, pelo menos.

Philippe Lacôte, o roteirista e diretor de Noite de Reis, é um absurdo de bom.

O universo que ele cria aqui foi poucas vezes mostrado em um filme de prisão, que sempre acaba caindo nos clichês mais bobos possíveis.

Noite de Reis funciona quase como que uma fábula (eu sei, fábula é quando bicho fala), onde personagens estereotipados ganham poderes além da obviedade e de seus destinos maiores que a vida.

Dias atrás eu falei do espanhol Silenciadas e de sua fonte As Mil e Uma Noites.

Aqui acontece o mesmo.

Roman, o contador de histórias, é aconselhado pelo Meio Doido ( ) a não acabar sua história, a deixar sempre um gancho para o dia seguinte se ele quiser sobreviver em MACA.

E é isso que ele faz falando de sua infância, da rainha, do ancião cego que ele guiava pelas mãos e por aí ele ia.

Lindo, emocionante, com uma poesia de rua que se transforma em um novo tipo de narrativa quando encarcerada, Noite de Reis é um filme para se assistir e tirar conclusões inesperadas de suas possibilidades fantásticas.

NOTA: 🎬🎬🎬🎬1/2