Começou um dos festivais mais bacanas e mais interessantes que temos anualmente por aqui, o In-Edit, o festival de filmes/documentários sobre música.
Um dos filmes em cartaz é um dos meus preferidos de 2020, The G0-Go’s, o documentário sobre a banda punk de mulheres mais fodona da história, que por acaso inventou o punk pop.
Pra começar bem minha singela cobertura da versão 2021 do In-Edit lhes jogo na cara mais um documentário imperdível, Moby Doc, o filme sobre o músico careca vegano eletrônico punk amigo do Bowie.
Moby é um dos caras que mais ganhou (e ganha) dinheiro com um disco, o seu Play, que depois de deixá-lo nadando em dinheiro o resto da vida, ele resolveu liberar os royalties para todo mundo que quisesse usar suas músicas em outras obras, pagando um valor simbólico, o que à época o deixou mais rico ainda porque o disco continuou vendendo muito e suas turnês passarem de centenas de pessoas de público para centenas de milhares.
Uma dessas festas para centenas de pessoas foi uma passagem dele por São Paulo em 1993, na primeira Rave por (oficial) aqui, em um galpão na Barra Funda ao lado do Antern 8, onde eu dancei a noite inteira e só sabia que o Moby era o cara que tinha lançado a música Go.
Moby Doc é o extremo oposto do ótimo documentário sobre as Go-Go’s: é malucão, é inventivo, tem muitas ideias estranhas, algumas se encaixam e outras nem tanto, é versátil artisticamente e cinematograficamente falando mas é sem dúvida nenhuma nos deixa grudados na tela por seus 100 minutos.
Moby diz no início do filme que não queria fazer um filme como todos os outros, aqueles que eu mesmo costumo chamar de burocráticos, onde amigos e ex colaboradores dos artistas dão entrevistas dizendo como aquele tal músico ou aquela tal banda ou aquela tal superstar é incrível, genial e que apesar de quebrar televisão em quarto de hotel sempre foi incompreendida.
Moby prefere ele mesmo contar suas histórias, se repetindo acho que para que nós entendamos o que ele queira realmente dizer, para que não tenhamos dúvida.
De menino paupérrimo, filho de mãe abusiva e indiferente, pai que cometeu suicídio, Moby mostra mais que tudo que ele é uma pessoa que sofre de depressão desde sempre e que desde que teve consciência desse seu estado permanente, tentou de todas as formas fugir disso com quantidades ridículas de álcool, de todas as drogas que ele encontrasse pela frente, de fases abstêmias a muitas e muitas fases de dependência e, como ele mesmo diz, na pior dependência de todas, a da fama, da mídia.
Moby fala dele para a gente entender sua música.
Mas a conclusão final para mim é que Moby é mais um cara de sorte que um músico genial, como eu sempre achei.
Um dos melhores amigos do Bowie, vizinho com quem ia ao supermercado junto e com quem dividiu o palco por tantas vezes, Moby responde em uma entrevista que não se conforma que nunca mais escreveu nada que se compare ao seu grande sucesso Play.
A importância de Moby Doc é por desmistificar o super astro de música, o ser intocável e perfeito.
Moby sempre esteve longe disso, pelo menos na minha opinião, mas não na dele.
Ele diz que por longos períodos ele se achava um rockstar, maior do que ele realmente era.
E a gente sabe, quanto maior a altura, maior o tombo.
O filme é co-escrito por Moby e Rob Gordon Bralver que também dirige e, se todo dj já sambou, esse diretor de cinema mais samba que mantém os bpms alinhados e bem mixados.
O filme, como disse, vai e volta em temas recorrentes, quase a textos recorrentes, que se servem para Moby fazer um mea culpa e nos convencer de tal, nos deixa meio que sabendo de onde viemos mas sem a menor ideia de para onde estamos indo.
Mas nem tudo em Moby Doc é tão mais ou menos assim: a trilha do filme, Moby Reprise, é linda demais, provando que de vez em quando o músico tem que focar na música e deixar gente mais, sei lá, competente, contar sua história.
O filme está nesse link e custa só 3 golpinhos pra assistir.
NOTA: 🎬🎬🎬1/2
Resenha em 30 segundos ou menos:
Trailer:
Um pensamento sobre “168/2021 MOBY DOC”