Nem vem que não tem, eu sou cadelinha do Brandon Cronenberg assumido e fim.
Possessor pra mim é um filme que me deu vários tapas na cara todas as vezes que assisti. É o tipo de filme que me surpreende todas as vezes que o revisito e eu não esperava menos do filme novo do filhote do mestre dos mestres.
Quando Infinity Pool estreou em Sundance em janeiro deste ano eu fiquei esperando os reviews, as críticas, os comentários e tudo o que eu via me deixava feliz: falando bem ou mal, todo mundo dizia que o filme era uma experiência incômodo, no mínimo.
Eu assisti Infinity Pool na melhor cópia que eu encontrei umas 20 horas atrás.
Se eu tivesse escrito uma resenha no meio do filme eu teria dado uma nota um pouco menor, porque o filme em princípio me incomodou um pouco com algumas sequências que mentirosamente se repetem propositalmente e na hora pensei, taí, não precisava de tanto.
Logo depois, com o desenvolvimento total do roteiro e principalmente de como o baby Cronenberg dá vida a esse roteiro eu caí de joelhos e só deixei a luz da inteligência cinematográfica entrar.
A piscina infinita do título ee a metáfora do hotel ideal, do resort ideal dos dias de hoje pra onde as pessoas vão pra muitas coisas, dentre elas relaxar.
Em Foster (Cleopatra Coleman) leva pra um desses resorts exclusivos em algum país bem pitoresco, pra não dizer bizarro, seu marido James (Alexander Skarsgard), um escritor que lançou seu primeiro livro, com algum sucesso, 6 anos atrás, e que desde então sofre pela inspiração que não vem para o próximo.
Neste lugar bizarro, não, vou chamar de pitoresco, porque parece um hotel decadente da década de 1970, com uma arquitetura brutalista, sem medo de se mostrar maximalista mesmo, onde todas as pessoas parecem ter alguma relação biológica, já que todos tem umas pintas no mesmo lugar no rosto, Em e James conhecem um casal também, adivinha, pitoresco.
Gabi (Mia Goth, mais incrível que nunca) é inglesa, fã do livro de James e casada com o suíço Alban (Jalil Lespert), um tipo de Willem Dafoe mais jovem com a mesma cara de doido.
Eles começam a fazer programas juntos porque, né, estamos aqui sozinhos, vamos nos enturmar.
Já no primeiro dia, na volta de uma praia deserta, James atropela fatalmente um homem na estrada. Com medo de serem presos, porque o tal país tem leis bem severas para violência, drogas, bandidagem e outras coisas mais, os 4 estrangeiros tentam fingir que nada aconteceu mas no outro dia James já é preso e condenado a morte.
Para sua sorte, se ele puder pagar, no tal país eles podem criar um clone de James e matá-lo em seu lugar.
Ah, quem vai matá-lo, inclusive, é o filho o homem atropelado.
James, quer dizer, sua esposa Em tem dinheiro e caso resolvido.
Ou não.
O clone que salva a vida de James acaba sendo também seu algoz de alma.
A partir deste momento, o que já era estranho em Infinity Pool, da direção de arte a direção de elenco, da trilha maravilhosa de Tim Hecker à direção de fotografia que merece prêmios do canadense Karim Hussain, que brinca tão sutilmente com a luz em um filme onde a sutileza passou longe.
O tom que Brandon Cronenberg escolheu para dar a sua história não só lembra vários momentos incômodos de filmes de seu pai como também muitos momentos de filmes de David Lynch, que aliás são os 2 diretores que eu sempre vou citar com certeza quando escrever sobre os filmes do Brandon.
Mas Infinity Pool também tem muito de Bela Tarr e sua criação de universos inéditos e inesquecíveis e um rigor, por mais caótico que seja sempre, como foi caótico em Possessor, mas é um caos controlado a partir de um rigor que me lembra muito os filmes do Alain Resnais.
Infinity Pool é punk, é excessivo, inclusive na duração de quase 2 horas, é maximalista, como já disse, é exagerado ao mesmo tempo que é cheio de detalhes que o diretor faz questão de nos mostrar e que mostra o quanto Brandon sabe o que está fazendo e como está fazendo.
Infinity Pool é o pior pesadelo do viajante com dinheiro, é a história mais bizarra que alguém que esteja fora e longe de seu país possa passar.
Se Babilônia era um filme da cocaína com os excessos todos nos enfiados goela abaixo, sem sutileza alguma por um diretor que mais quer aparecer que mostrar seu filme, Inifnity Pool é o filme da heroína misturada com o crack, é o filme das drogas pesadas extremas, do torpor viajante do pó da papoula à nóia desgraçada d a pedra lixo quando fumada.
Eu te prometo que Infinity Pool é como nada que você já tenha visto. E talvez sentido por um filme. O horror do filme vem em surpresas, que seriam sustos nas mãos de um diretor mais preguiçoso, e nada melhor que se surpreender e ficar de queixo caído por 2 horas em um universo fílmico nunca visto antes.
Possessor era a bad trip psicodélica, Infinity Pool é a bad trip da nóia do torpor, uma coisa que eu até então não sabia que pudesse existir mas hoje eu tenho certeza que sim porque vivi essa experiência horrorosa da melhor forma possível, através de um filme que me surpreendeu, me deixou de quatro, que não sai da minha cabeça e já está no meu panteão de 2023.
NOTA: 🎬🎬🎬🎬🎬
Um dos meus mais aguardados… parei de ler a crítica quando começou a entregar a rapadura…
Não tem nada q não tenha no trailer, garanto. Mas volte depois