Outro dia escrevi por aqui que o filme português Vitalina Varela tinha sido o filme mais lindo que eu assisti nos últimos dias.

Folgo em dizer que Isso Não É Um Enterro, É Uma Ressureição, o candidato do Lesoto a uma vaga aos Oscar de melhor filme internacional esteja no mesmo nível do filme do gênio Pedro Costa.

Mais ainda: o filme africano, se bobear, pode até ser considerado um primo próximo do filme português com pinceladas de luz de um outro favorito meu, Honeyland, o documentário mais lindo do ano passado.

Opostos fotograficamente, mas bem próximos filosoficamente.

Isso Não É Um Enterro conta a história de Mantoa, uma mulher de 80 anos de idade, que começa a preparar o seu funeral, porque sabe, como ela mesma diz, já passou da hora de morrer.

Conversando com o padre, com os responsáveis por Nasaretha, uma corruptela de Nazaré, Mantoa descobre que o vilarejo onde mora será inundado por uma represa.

E toda sua história, de seus ancestrais, de seus amigos, vizinhos, familiares, tudo será perdido.

Mantoa e todo o povo de Nasaretha não aceita de maneira nenhuma essa decisão enquanto tentam como podem continuar em sua terra.

A força fílmica que sai do diretor Lemohang Jeremiah Mosese diretamente para o filme é coisa de gente que filma há 50 anos, que sabe exatamente o que fazer com seu elenco, com sua câmera e o melhor, com sua audiência.

Óbvio que Isso Não É Um Enterro, É Uma Ressureição não vai chegar aos finalistas do Oscar, por ser um filme totalmente fora do padrão hollywodiano de cinema, assim como Vitalina Varela não tem a menor chance de concorrer pelos mesmos motivos.

Esse cinema perfeito, tanto no conteúdo como na forma, o que cada vez mais se torna praticamente impossível de acontecer, é o tipo de cinema que parece que Hollywood abomia, onde a experimentação não é apenas um meio, mas um filme.

Isso Não É Um Enterro, É Uma Ressureição é filme para se assistir ajoelhado, babando e esperando o dia para que possamos encontrar seu diretor Mosese e então nos ajoelharmos em sua frente e beijarmos seus pés.

Amém.

NOTA: 🎬🎬🎬🎬🎬