321/2022 CORSAGE

Quando eu era criança eu passava os domingos no Palmeiras, era sócio do clube.

Ficava o dia todo na piscina, saía pra comer uma coxinha, voltava a nadar esperando pra ir ao cinema do clube no fim da tarde.

Os únicos filmes que eu me lembro de ter visto, e isto nunca me saiu da cabeça, foram os 3 filmes da Sissi, a rainha malucona da Áustria, vivida pela Romy Schneider, que não por nada sempre foi uma das minhas atrizes preferidas.

Quando assisti o trailer de Corsage pela primeira vez, antes de saber nada sobre o filme, fiquei felizão em saber que era uma nova versão da história da minha rainha preferida.

Sissi era a a Imperatriz Elizabeth da Áustria. Mas ela era húngara, lá na época do império austro-húngaro, lembra, da I Guerra Mundial?

Eu de verdade nunca imaginei que veria Sissi no cinema de novo e Corsage, que tem o melhor trailer do ano, é um dos melhores filmes de 2023.

Primeiro que Sissi é vivida por uma das maiores de todas, a luxemburguesa Vicky Krieps de Trama Fantasma e Bergman Island, só pra citar 2 extremos opostos.

Segundo que o filme é escrito e dirigido pela austríaca Marie Kreutzer.

Diz a lenda que Vivky deu a ideia a Marie, quando fizeram O Chão Sob Meus Pés de fazerem um filme sobre a Imperatriz além de seu tempo e Marie disse na hora que ela era muito cafona, que Sissi tinha “morrido” com os filmes da Romy Schneider.

Até que um dia Vicky recebe o roteiro de Corsage e o resto é história.

Corsage, espartilho, conta de uma forma muito contemporânea a história da húngara que se casou com o Imperador Austríaco que sempre deixou bem claro que ela estava lá para ser mãe de seus filhos e sua companheira em eventos oficiais.

Mas Sissi era muito mais que a “recata e do lar”.

Dizer que ela era a frente de seu tempo era pouco.

Ela fazia o que queria, sempre.

Fumava, se fingia de doente para fugir de eventos oficiais que ela não queria participar, usava espartilhos muito apertados para compensar seu amor por doces, se apaixonava e acabava com essas paixões como queria. foi meio que inventora de equipamentos de ginástica, repensou hospitais e hospícios e foi, olha só, uma das grandes incentivadoras do cinema, que estava nascendo e que “iria acabar com a fotografia”.

Resumindo: ela era a criadora de sua própria história e não admitia que seu casamento, que a Imperatriz fosse contra seus desejos.

Sissi foi grande, gigante mesmo e sua história que sempre foi maior que a história de seu marido acabou tendo essa fama de “cafona”, que a austríaca Kreutzer sempre achou.

Até que as novas gerações descobriram a “história real” e além de Corsage, outros 3 filmes sobre a Imperatriz serão lançados ao longo do próximo ano.

Mas nenhum com a genial Vicky Krieps, que leva a personagem principal a um patamar que eu não esperava, de novo, ver no cinema.

Sissi era uma mulher que nos dias de hoje com certeza seria chamada de progressista, de feminista, de ousada. E isso tudo como xingamento.

A diretora Kreutzer teve o bom senso de usar toda a estranheza e ousadia de Sissi em seu roteiro e principalmente na forma de Corsage.

O filme é de uma ousadia estética de encher os olhos.

A direção de arte, o figurino, maquiagem, perucas, são tão importantes quanto as outras personagens do filme.

Muito da história é contada através do que vemos, além do texto.

A fotografia e a direção aqui nasceram uma para a outra.

Não tem um plano equivocado, uma cena a mais, uma reação de elenco a mais ou a menos, tudo é perfeito demais.

Parece que o filme demorou anos e anos para ser feito.

Fiquei o tempo todo pensando no Kubrick e na sua riqueza de detalhes, o que a gente enxerga o tempo todo em Corsage.

Cada comida tem um porquê.

Cada roupa existe para uma finalidade.

Cada respiração funciona para que todas as personagens do filme contem com perfeição a história dessa mulher.

O único problema de Corsage, pra mim, foi que eu assisti o filme depois de ter sido arrebatado pela Cate Blanchett em Tar, o que eu achei que me deixaria arrasado e apaixonado por dias.

MAs a Imperatriz de Vicky Krieps me fez atravessar fronteiras do tempo e fez com que eu me lembrasse que Sissi, a Imperatriz, é e sempre será maior que (quase) todas.

Pelo menos. no cinema.

NOTA: 🎬🎬🎬🎬🎬

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